CÍrculo Meridiano de espelho
O Círculo Meridiano de Espelho (CME) do Observatório Astronómico Professor Manuel de Barros (OAPMB) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto foi concluído em 1957. Este instrumento destinado à determinação das horas e à observação dos astros era bastante sofisticado para a época, só existindo no mundo três círculos meridianos com as mesmas características (hoje, só o de Gaia e o de Pulkovo, na Rússia, é que permanecem em funcionamento; o terceiro projeto para um instrumento deste tipo aconteceu em Otava, Canadá, tendo sido descontinuado no início da década de 70).
Quem propôs o CME foi o físico R. d’E. Atkinson, do Observatório de Greenwich, organismo no qual Manuel de Barros permaneceu como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura. Convencido por Atkinson das vantagens deste instrumento, o professor da FCUP obteve dos Ministérios da Educação e das Obras Públicas verbas especiais para a construção e instalação do CME.
Embora com o apoio de R. d’E. Atkinson, coube ao Observatório Astronómico do Porto projetar o instrumento sob orientação do Professor Manuel de Barros. Uma boa parte dos seus sistemas mecânicos e eletrónicos foram construídos no Observatório, o que permitiu uma redução considerável de custos e a formação de um centro de trabalho de Astronomia. Refira-se, a propósito, que o Observatório dispunha de uma oficina de mecânica e eletrónica, onde instrumentação diversa foi, ao longo dos anos, concebida com grande rigor científico.
Atendendo ao potencial deste tipo de instrumentos para a determinação da hora, a União Astronómica Internacional decidiu criar um Grupo de Trabalho dedicado (Horizontal Meridian Circles), grupo esse no qual participava o Professor José Pereira Osório, diretor do OAPMB desde 1975 até 1997. Este Grupo de Trabalho desenvolveu a sua atividade até ao final da década de 80, já que com o lançamento em 1989 do satélite HIPPARCOS (HIgh Precision PARallax COllecting Satellite) se iniciou uma nova era no domínio da Astrometria, a passagem das observações em Terra para observações no Espaço.
Mesmo depois de ter deixado de ser utilizado para a determinação da hora, o CME continuou a ser um instrumento de treino para estudantes de cursos da FCUP das áreas da astronomia e da engenharia geográfica. A partir de 2010 foi objeto de um vasto projeto de recuperação que possibilitou repor a sua funcionalidade, agora numa perspetiva de equipamento histórico enquadrando o longo percurso da Humanidade na sua procura de registar o tempo e disponibilizá-lo com rigor nos relógios. Assim, a partir de 2022 e por intermédio de uma parceria com a Porto Secret Spots, serão disponibilizadas visitas guiadas ao Círculo Meridiano de Espelho do Observatório Astronómico Professor Manuel de Barros segundo o lema “Venha acertar o seu relógio ao Observatório”.
Grande Telescópio
Na sequência de um projeto iniciado em 1969 pelo Prof. Manuel de Barros, o Grande Telescópio do Observatório foi desenhado para funcionar como astrógrafo, possibilitando a obtenção de imagens de campo grande com o objetivo de determinar velocidades radiais de estrelas para estudo da dinâmica da Galáxia. A sua fabricação esteve cargo da empresa Grubb Parsons do Reino Unido.
Particularmente adequado para levantamentos de grandes áreas do céu, o telescópio pode dar contributos relevantes para estudos de variações de brilho de objetos celestes
(estrelas variáveis) e deteção de objetos que se movem contra o fundo de
estrelas (por exemplo, lixo espacial e asteroides).
Na sequência de uma colaboração com astrónomos do Observatório Real de Edimburgo, foi decidido o telescópio ficar instalado na Serra Amarela na zona do Gerês atendendo à qualidade das observações a partir desse local. Por razões vários tal não se veio a verificar, tendo ficado sediado nas instalações do Observatório Astronómico Professor Manuel de Barros no Monte da Virgem em Vila Nova de Gaia.
A partir de 2014 o telescópio foi sujeito a um processo de recuperação e de modernização de alguns dos seus elementos constituintes, desde logo a substituição do registo fotográfico por um baseado em CCD (Charge Coupled Devices), assim como a robotização do procedimento de alinhamento. Está também em ponderação a sua instalação em local da zona centro do país com condições apropriadas à observação astronómica. Para além das aplicações indicadas, a característica deste instrumento de possibilitar levantamentos de vastas áreas do céu torna-o particularmente adequado à sinalização de eventos celestes que, posteriormente, serão objeto de estudo por telescópios especializados de observatórios internacionais.